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Tempotempoesia ou quem se lembra das memórias da obra de arte


Pentimento é aquilo da pintura que o pintor escondeu e o tempo revela. Palavra que parece sentimento, mas vem de arrependimento, é a memória da pintura. É o que a pintura foi, antes de concluir-se como obra, um verbete criado pelos museólogos que conservam obras dos grandes mestres italianos. Neste projeto curatorial, Antonio Bokel investiga aquilo que acontece quando, após a morte da pintura, artistas contemporâneos se apropriam do pentimento como propósito e não como consequência.

As obras de Clarice Rosadas, Carolina Kasting e Guilherme Borsatto não precisam do tempo para revelar suas escolhas. Eles se apropriam das texturas do tempo para falar dos espólios do(s) processo(s) do devir e do viver. Aqui, a memória não é presente nem passado: é passagem. Em suas mãos,  ela não expõe aquilo que pretendemos esquecer, mas sim torna-se registro daquilo que compõe o permanecer. Pensamento,  sentimento e corpo; memória é, aqui, poesia viva.

É no embaralhar, no decair e no apodrecer que é escrita a poesia do tempo. Seja através do mofo, da ruga ou da mancha, o gesto criador exercido pelo artista é análogo ao gesto criador do tempo, que imprime na superfície sua passagem e transforma aquilo que foi naquilo que é. Tudo que é, um dia já foi. Tudo que será, hoje é. No domínio de Tempotempoesia, os artistas trabalham como aranhas que adornam aquilo que é esquecido com redes tecidas para que nada passe. Também subjugadas às intempéries do tempo, suas obras-teias não tentam cristalizar o presente para fazê-lo perene, mas como uma fotografia, registram o processo de tornar-se memória. 
 

 

Giovana Macedo
2023

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